Muito
além do aumento das tarifas de ônibus
Publicado em 20/06/2013
Por Bárbara Espínola
Colaborou Pauline Féo
Arte: Zeymar Olszewski
Colaborou Pauline Féo
Arte: Zeymar Olszewski
Em junho de 2013, o Brasil parou para
ver o que há muitos anos não acontecia no País: protestos capazes de mobilizar
grandes cidades e chamar a atenção de todo o mundo. Iniciadas a partir do
aumento das tarifas do transporte coletivo, as manifestações ganharam dimensões
cada vez maiores, sendo realizadas até mesmo fora do País, por brasileiros que
estão no exterior. O número de cidades que se uniram aos protestos aumentou,
assim como as motivações, que vão muito além do aumento das tarifas de ônibus.
Agora têm espaço brados contra corrupção, má qualidade dos serviços públicos,
inflação, gastos para a Copa e muitos outros.
Entre os manifestantes, estão
principalmente jovens e estudantes, que cada vez mais aderem aos protestos
organizados pelo Movimento Passe Livre. Do primeiro ao quinto grande ato em São
Paulo, a quantidade de participantes deu um salto de 3 mil (segundo
organizadores) para 65 mil (Datafolha). Mas a polêmica em torno das
manifestações também é grande. A seguir, saiba um pouco mais sobre o que está
em jogo.
Infográfico
Galeria de imagens
Manifestações chegaram ao Rio de Janeiro, onde a quantidade de participantes chegou a 100 mil no dia 17 de junho.
Curioso notar que, dentre os vários lemas adotados pelos manifestantes, muitos são slogans de propagandas, como "Vem pra rua" e "O gigante acordou".
Vândalos infiltrados no movimento depredaram ônibus, prédios públicos e estabelecimentos comerciais
O que se diz por aí
Nas últimas semanas, a gente viu, nas ruas, o Brasil mudar.
Depois de décadas de apatia, os jovens se mobilizaram para protestar contra o
que consideram injusto: transporte público caro, truculência da polícia, lei
que limita o poder de investigação do Ministério Público, corrupção e
impunidade dos políticos, gastos exorbitantes com a Copa do Mundo, tudo isso
enquanto as pessoas sofrem para pagar seus impostos e suas contas. Motivos não
faltam!
No meio da manifestação, grupos com objetivos distintos, que
destoam da massa que protesta de forma pacífica, aproveitaram-se da situação de
aglomeração e "camuflagem" para quebrar, pichar, incendiar e roubar.
Nada a ver! A gente também quer justiça, paz e um basta à violência que impera
no país. Mais um objetivo para se agregar às manifestações: isolar quem delas
se aproveita para benefício próprio e escuso! Esse tipo de ação só diminui o
brilho dos que marcham para tentar mudar o país.
Qualquer conclusão sobre esse assunto é leviana. É um evento novo
e bastante diferente.
No Brasil, o primeiro fenômeno de massa detonado por redes sociais.
Ocorre em clima de pleno emprego e em um momento em que os padrões de consumo e bem-estar da população jamais estiveram tão altos. A maioria dos protestos ocorre em situações de crise, seja econômica ou política. Veja-se Venezuela, Argentina, Líbia, Turquia, Egito, etc. Aqui, não há crise, não há um governo impopular no poder.
No Brasil, o primeiro fenômeno de massa detonado por redes sociais.
Ocorre em clima de pleno emprego e em um momento em que os padrões de consumo e bem-estar da população jamais estiveram tão altos. A maioria dos protestos ocorre em situações de crise, seja econômica ou política. Veja-se Venezuela, Argentina, Líbia, Turquia, Egito, etc. Aqui, não há crise, não há um governo impopular no poder.
Há pesquisas mostrando que, quando as coisas melhoram, depois,
diante de uma pequena piorada, há riscos de revolta. Não é o caso, ainda não
começou a piorar, embora os cenários mais prováveis apontem nessa direção.
Não há um fator poderoso, desses de mover montanhas. Passagem de ônibus é uma questiúncula. E a classe média aderiu por outras razões. Há um mal-estar difuso, contra os políticos e o serviço público. O único mote específico são os gastos exagerados da Copa.
Não há líderes, como Cohn-Bendit, em 1968 em Paris, ou Mario Savio em Berkeley, em 1965.
Acho que as escolas têm dois caminhos. Um fingir de morta. É o mais fácil. Outro é convocar os alunos para um debate sobre desobediência civil, situação presente no Brasil, e a violência criada por um bandinho de meliantes. É mais corajoso.
Não há um fator poderoso, desses de mover montanhas. Passagem de ônibus é uma questiúncula. E a classe média aderiu por outras razões. Há um mal-estar difuso, contra os políticos e o serviço público. O único mote específico são os gastos exagerados da Copa.
Não há líderes, como Cohn-Bendit, em 1968 em Paris, ou Mario Savio em Berkeley, em 1965.
Acho que as escolas têm dois caminhos. Um fingir de morta. É o mais fácil. Outro é convocar os alunos para um debate sobre desobediência civil, situação presente no Brasil, e a violência criada por um bandinho de meliantes. É mais corajoso.
Acho que foi Bernard Shaw quem disse mais ou menos isto: os
homens de bem (!) aceitam o mundo – ou as coisas – como elas são; só os jovens
querem mudar o mundo. Portanto, toda a evolução depende dos jovens. Creio que
ele falava de loucos, mas a ideia serve para o que está acontecendo agora.
Um milhão de assinaturas não constrangeriam o Congresso na
votação do PEC 37, da mesma maneira que esse Congresso – que não muda nunca –
não se sentiu obrigado a atender ao apelo de 10 milhões de brasileiros que
foram às ruas pelas Diretas. Acredito que o rio de luz dos meninos ocupando
toda a Avenida Rio Branco, numa marcha que começou em São Paulo e tomou todo o
Brasil, vá iluminar a obscura e dura cabeça dos congressistas, que, certamente,
sem esse movimento, iriam calmamente trair o povo outra vez. Será preciso ainda
muita luta para que a decência e a dignidade se instalem na Praça dos Três
Poderes.
Com a palavra, o educador Celso Antunes:
Com sentimentos que se alternam entre alegria e apreensão,
assisto à onda de manifestações e protestos que, nos últimos dias, mobiliza
parte das grandes cidades do País, contaminando de forma progressiva e imediata
também municípios do nosso interior.
Alegria e um tímido alento de civismo, por perceber que a juventude brasileira (figura proeminente nessas manifestações) se movimenta contra situações de abuso civil e contra a representação do povo, expressando sua força e sua decepção. Uma força que as redes sociais expandem e que quebra o estereótipo do brasileiro como um povo alienado, distante e facilmente conduzido.
Alegria e um tímido alento de civismo, por perceber que a juventude brasileira (figura proeminente nessas manifestações) se movimenta contra situações de abuso civil e contra a representação do povo, expressando sua força e sua decepção. Uma força que as redes sociais expandem e que quebra o estereótipo do brasileiro como um povo alienado, distante e facilmente conduzido.
Mas esses sentimentos se alternam com o de apreensão: em
primeiro lugar, pela facilidade com que essas ações se fazem permeáveis a
infiltrações de grupos oportunistas, hordas vandálicas e indivíduos que,
distantes da causa reivindicada, agem com agressividade, saqueiam e afrontam as
instituições. A apreensão se intensifica quando temo que a facilidade de
mobilização colocada hoje a serviço da juventude possa também abrigar logo mais
causas preconceituosas e exclusivas, assumindo a forma de protesto contra
alguém de que não se gosta, independentemente das razões dessa aversão.
Gostaria, como educador, que o vigor cívico se fizesse sempre associar a
sentimentos de respeito ao outro, à propriedade alheia e, sobretudo, ao direito
constitucional à diversidade e de aceitar como elemento de convivência os
grupos que acreditamos diferentes.
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